Por: Jair Fonseca
Muito se fala sobre a chegada da nossa Ordem ao Brasil, mas após sua chegada muitas turbulências ocorreram e uma delas foi uma cisão ocorrida, que passo a destacar agora.
Em 28 de janeiro de 1921 falecia o irmão Luiz Soares Horta Barbosa, Grão-Mestre Adjunto.
Ocupava o cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil o irmão Thomas Cavalcanti de
Albuquerque.
Deixando vago este importante cargo, foi realizada uma eleição para preenche-lo.
Participaram do pleito os irmãos: José Maria Moreira Guimarães, apoiado por quase todas as
lojas do Grande Oriente do Estado de São Paulo e o irmão Mário Marinho de Carvalho Behring
candidato do poder central.
O vencedor foi Mário Behring, mas os irmãos que apoiaram José Maria Moreira Guimarães,
não se conformaram alegando que o resultado seria outro se não fossem anuladas, pela
comissão que apurou os votos, várias atas de lojas paulistas.
Mesmo assim Mário Behring foi consagrado vitorioso e tomou posse em 16 de julho de
1921. Era o novo Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente do Brasil.
De acordo com a Constituição de 24 de fevereiro de 1907 do Grande Oriente do Brasil e
pelo Estatuto do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito de 11 de agosto de 1911 os
cargos de Soberano Grande Comendador e de seu Lugar Tenente do Grande Comendador
deveriam ser preenchidos pelos irmãos que ocupassem os cargos de Grão-Mestre e de seu
Adjunto respectivamente.
Desta forma Mário Behring pela legislação vigente ocuparia o cargo de Lugar Tenente do
Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho.
De forma surpreendente para a época não concordou e pediu que os integrantes do
Supremo Conselho o elegessem. Argumentava o irmão Mário Behring que deveriam prevalecer
as normas internacionais do Rito Escocês que estabeleciam a independência dos Supremos
Conselhos em relação aos graus simbólicos. Os integrantes do Conselho, embora sendo esta
uma medida ilegal as luzes dos regulamentos vigentes, aprovaram sua solicitação e o elegeram
para Lugar Tenente em Sessão de 1º de agosto de 1921.
Em fevereiro de 1922 Mário Behring foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil
tomando posse em 28 de junho de 1922. Mantendo coerência com a atitude anterior, solicitou e
foi eleito pelo Conselho do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito para ocupar o
cargo de Soberano Grande Comendador em 9 de junho de 1922. Mais uma vez foi contrário a
legislação vigente que lhe assegurava o poder sem nenhuma outra providência. Por um lado
buscava atender aos Supremos Conselhos internacionais através de eleição independente e por
outro lado dirigia duas entidades que os mesmos Supremos Conselhos determinavam total
separação.
Mas este era o início da busca da regularidade internacional que somente seria concretizada
em 1927 com a criação das Grandes Lojas estaduais definindo assim a total independência da
maçonaria simbólica da filosófica. O Grande Oriente do Brasil somente reconheceu este fato em
23 de maio de 1951 tendo hoje as duas entidades separadas.
Em 13 de junho de 1925 deixou o cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil
permanecendo como Soberano Grande Comendador e, em 4 de junho de 1926, foi aprovado por
fim um Estatuto no Supremo Conselho dando maior independência entre o Grande Oriente e o
Supremo Conselho.
Em 1927 passou a ser Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil o irmão Otávio Kelly e, de
acordo com a legislação vigente, declarou que assumiria o alto posto do Supremo Conselho.
Marcou então uma reunião de seu Conselho Geral para o dia 20 de junho de 1927. Alguns dias
antes, em 17 de junho, em uma sexta-feira, Mário Behring, realizou uma reunião extraordinária do
Supremo Conselho tomando decisões importantes como as de expedir Cartas Constitutivas as
Grandes Lojas que estavam sendo criadas nos estados da federação. Como segunda medida,entre outras decisões tomadas naquela célebre reunião, foi a de romper relações com o Grande
Oriente do Brasil.
Na oportunidade foi declinado que o Soberano Comendador seria elegível pelos membros
efetivos e que o Grão-Mestre não necessariamente deveria ter graus além de Mestre Maçom.
Quando o Grão-Mestre Otávio Kelly realizou a reunião do Grande Oriente do Brasil no dia
20, segunda-feira, a separação definitiva dos graus simbólicos e filosóficos já estava decidida
pelo Supremo Conselho de Mário Behring.
O Brasil estava iniciando as mudanças para adaptar-se as exigências da III Conferência
Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceito realizada em Lausanne realizada de 29 de
maio à 2 de junho de 1922. Foi lá que iniciou a derradeira exigência para que os Supremos
Conselhos fossem independentes.
Sendo o Supremo Conselho o legítimo detentor do Rito Escocês perante os outros 35
Supremos Conselhos no mundo as quais, durante anos o irmão Mário Behring manteve profícuo
relacionamento, nada mais legítimo a emissão das referidas Cartas Constitutivas por parte deste
Supremo Conselho.
Em 22 de maio de 1927 foi criada a primeira Grande Loja no estado da Bahia com a
posterior emissão por parte do Supremo Conselho.
A IV Conferência mundial teve início no dia 29 de abril de 1929 em Paris quando foram
recebidas as credenciais dos participantes a partir das 9 horas da manhã. Iriam apresentar-se
dois Supremos Conselhos representando o Brasil. Um do irmão Mário Behring e outro do irmão
Otávio Kelly.
A confederação internacional reconhece somente um Supremo Conselho por país e a única
exceção é o caso dos Estados Unidos da América do Norte que possuí dois Supremos
Conselhos. A Comissão encarregada de analisar as credenciais reconheceu o Supremo
Conselho do Irmão Mário Behring pois este possuía autonomia e negou-a ao Supremo Conselho
do irmão Otávio Kelly pois este estava subordinado ao Grande Oriente do Brasil. Até nesse ponto
os representantes do Supremo Conselho do irmão Mário Behring tomaram a frente, pois
chegaram antes da hora prevista perante a comissão de recebimento de credenciais. Quando os
representantes do irmão Otávio Kelly chegaram para apresentar suas credenciais, minutos
depois, o Brasil já estava representado, sendo então negada a entrada a esta delegação. Estes
apresentaram sua justificativa por escrito e reclamaram veementemente, mas seu protesto nem
foi lido em plenário.
No dia 8 de janeiro de 1928 quatro lojas do sul do estado, reunidas em Bagé, decidiram
acompanhar este movimento mundial de separação da maçonaria vermelha da maçonaria azul,
criando a Grande Loja Simbólica do Rio Grande do Sul.
São estas lojas: A Loja “Rocha Negra” de São Gabriel, a Loja “Caridade Santanense” de
Santana do Livramento, a Loja “Fraternidade” de Pelotas e a Loja “Amizade” de Bagé recebendo,
através de sorteio, os números 1 a 4 respectivamente.
Loja “Rocha Negra” Nº 1, Loja “Caridade Santanense” Nº 2, Loja “Fraternidade” Nº 3 e Loja
“Amizade” Nº 4.
A Loja “Amizade” Nº 4 permaneceu durante breve período ligada a Grande Loja recém
fundada, retornando em seguida ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul no qual ainda hoje é
obediente.
Líder deste movimento, a Loja “Fraternidade” Nº 3, teve um de seus obreiros escolhido para
ser o primeiro Grão-Mestre, o irmão Manoel Serafim Gomes de Freitas. Durante os primeiros
anos, a Grande Loja teve como sede a cidade de Pelotas, onde sua estrutura foi organizada; de
1934 a 1936 a sede foi para Bagé; de 1936 à 1939 em Porto Alegre; quando retornou à Pelotas
até 1942. A partir desse ano teve sua sede administrativa transferida para a capital gaúcha de
forma definitiva.