RITO DE YORK

Pouco conhecido pelos maçons europeus, o Rito de York é o mais amplamente praticado pelas Lojas simbólicas nos Estados Unidos, na medida em que às vezes é referido simplesmente como o Rito Americano. O Rito de York não chegou à Europa até recentemente, quando as tropas americanas estavam estacionadas lá durante as duas guerras mundiais. Mas quais são as origens do Rito de York? Por que tem esse nome tipicamente inglês se é americano? E quais são as características específicas do Rito de York?

O rito de York é um conjunto completo de treze graus maçônicos divididos em quatro lojas e capítulos diferentes.

Vários desses graus existem na Maçonaria de outros países anglo-saxões (como o Arco Real), mas são organizados de forma diferente. O Rito de York é o único na Maçonaria Anglo-Saxônica a combinar todos esses graus em um todo coerente, que leva o nome de Rito.

Os rituais do Rito de York são fortemente influenciados pela Bíblia, com ênfase particular no Antigo Testamento, nas Lojas, Capítulos e Concílios, e no Novo Testamento. 

Com variações, dependendo do Estado o Rito de York é o Rito oficial das Grandes Lojas Regulares Americanas e também da Maçonaria Afro-Americana de Prince Hall.

Os adeptos do Rito de York muitas vezes afirmam que seu Rito (pelo menos em seus graus de simbolismo) é o mais antigo do mundo, remontando à primeira assembléia de Maçons realizada em York em 926, durante o reinado do Rei Atelstão. Esta assembléia lendária é registrada pela primeira vez no manuscrito Halliwell, mais conhecido como “Regius” (por volta de 1390), mas a data 926 só foi mencionada desde o reinado de Elizabeth I. Nenhuma fonte histórica confirma que tal assembléia tenha acontecido.

No entanto, a Loja de York se considerava particularmente eminente dentro da Maçonaria Inglesa. Em 1725, em reação à criação da Grande Loja de Londres e à alteração dos rituais tradicionais, esta Loja afirmou ser a “Grande Loja de Toda a Inglaterra, Reunião desde Tempos Imemoriais na Cidade de York”.

Esta Grande Loja, que muitas vezes é negligenciada quando se fala da Maçonaria Inglesa do século XVIII, foi a primeira oposição organizada à “Modernidade” da Grande Loja de Londres, cerca de trinta anos antes da fundação da Grande Loja dos Antigos. Teve menos impacto do que as outras duas Grandes Lojas, porque era vagamente estruturada, funcionava como uma Loja Mãe, reunindo-se apenas para receber novos Irmãos com o objetivo de formar novas Lojas, e não administrava essas Lojas. Caiu inativa na década de 1730, apenas para renascer em 1761. Em 1769, a “Antiquity Lodge” da Grande Loja de Londres retirou-se e se uniu à Grande Loja de York, que então tomou o nome de “Grande Loja de Toda a Inglaterra ao Sul do Rio Trent”. Esta Grande Loja cessou toda atividade em 1789 ou 1790.

Qual era o ritual (ou rituais) usado nas Lojas reconhecidas pela Grande Loja de York? Nós não sabemos. Mas podemos afirmar sem hesitação que era da chamada tradição “Antiga”, assim como as da Grande Loja dos Antigos, da Grande Loja da Irlanda e da Grande Loja da Escócia, e como o Trabalho de Emulação Inglês seria de 1813.

Embora não conheçamos o ritual usado na Grande Loja de York, observaremos uma particularidade, ao contrário das outras Grandes Lojas, ele conferiu não apenas os três graus de simbólicos, mas também o Arco Real (de 1770) e o Cavaleiro Templário (de 1780). Essa estrutura, é claro, é uma sombra a do atual Rito de York, menos o Conselho de Graus Crípticos, que não apareceu em Nova York até 1792, e começou a ser estruturado por volta de 1810. Mas existe uma ligação direta entre as práticas da Grande Loja de York e o atual Rito Americano de York? Temos o direito de duvidar disso.

AS ORIGENS DO RITO YORK OU AMERICANO

O Rito de York se originou nas colônias americanas, que se tornariam os Estados Unidos da América após 1783. Embora estivesse enraizado nas tradições maçônicas inglesas, irlandesas e escocesas, era, no entanto, original e foi o resultado de compromissos feitos para harmonizar as várias práticas maçônicas da Grã-Bretanha e fundi-las em um rito específico para o país recém-independente.

As primeiras Lojas Americanas, que apareceram já em 1730, tiveram várias origens, algumas foram fundadas pelas Grandes Lojas Provinciais criadas nas colônias pela Grande Loja de Londres (os “Modernos”), mas a maioria era de tradição “Antiga”; eram Lojas de criação espontânea, ou Lojas fundadas por Lojas militares ligadas à Grande Loja da Irlanda, pela Grande Loja da Escócia, ou mesmo pela Grande Loja dos Antigos (de 1758).

É difícil imaginar que a Grande Loja de York, que estava se tornando inativa ao mesmo tempo em que as primeiras Lojas estavam sendo fundadas na América, poderia ter desempenhado qualquer papel no desenvolvimento da Maçonaria Americana. Mesmo após seu renascimento em 1761, contou apenas nove Lojas quando a Guerra da Independência Americana terminou em 1783. Às vezes lemos que as Lojas Militares Irlandesas espalharam o Rito da Grande Loja de York para o novo continente. Mas por que eles deveriam ter feito isso, já que estavam sob a Grande Loja da Irlanda e tinham sua própria tradição maçônica?
A necessidade de um novo ritual na América surgiu por razões históricas. Durante a Guerra da Independência, as Lojas ligadas à Grande Loja de Londres (os “Modernos”) tendiam a ficar do lado da Inglaterra, enquanto os “Antigos” estavam do lado dos Insurgentes. Após a independência efetiva de 1783, muitos maçons “modernos” retornaram à Inglaterra e as várias Grandes Lojas Provinciais da Grande Loja de Londres eventualmente se fundiram com suas contraparte na tradição “Antiga”. O Rito de York tornou-se então o único Rito praticado pelas Grandes Lojas dos Estados que formavam a União.

Por que o nome “Rito de York?

Se os maçons que se identificaram com a Grande Loja de York claramente não desempenharam nenhum papel na disseminação da Maçonaria na América, e se é improvável que o ritual que eles usaram tenha cruzado o Atlântico, por que o Rito Americano tem o nome de “Rito de York”?

Os maçons americanos provavelmente escolheram esse nome por dois motivos. A primeira é que a Loja de York, muitas vezes mencionada nas “Old Charges”, permaneceu cercada pela aura lendária que a tornaria o berço da Maçonaria.

A segunda razão é mais diplomática. As Lojas Americanas eram de origem inglesa, irlandesa ou escocesa. Qual dessas tradições teria primazia nos novos Estados Unidos? 

As Grandes Lojas dos Estados Americanos certamente não podiam se chamar de “inglesas”, isso é óbvio. Mas chamar a si mesmos de “irlandeses” ou “Escocês” teria introduzido com particularidades específicas do Reino Unido que não tinham mais nenhuma razão para existir na nova República. A tradição de York, que afirma voltar ao tempo imemorial, ligou a nova Maçonaria Americana à mais antiga tradição maçônica, sem sequer ter que nomear a Inglaterra ou Londres.

É claramente o status mítico do próprio nome de York que permitiu que o Rito de York mantivesse simbolicamente contato com a antiga Maçonaria Inglesa, ao mesmo tempo em que virou as costas histórica e politicamente para a Inglaterra.

O Rito de York no Brasil

O Rito de York chegou ao Brasil através do Grande Oriente Unido, também conhecido por “Grande Oriente dos Beneditinos”, com a Washington Lodge, fundada em 19 de novembro de 1874, na cidade de Santa Bárbara do Oeste-SP. 

Esta Loja “não foi fundada por ingleses, mas, sim, por americanos”, depois de terem emigrado para o Brasil, por ocasião da Guerra Civil nos Estados Unidos da América. Eles eram quase todos, originários do Estado do Alabama”.

A pioneira foi a Orphan Lodge [Loja Órfã], fundada na cidade do Rio de Janeiro, Estado do mesmo nome. O título distintivo da Loja Órfã era alusivo ao fato de ser a única da América do Sul, abaixo do equador, já que acima embora incipiente, existia Maçonaria em Georgetown, capital da Guiana Inglesa, que fora anexada à Grã-Bretanha em 1812, pela convenção de Londres, após a conquista dos territórios holandeses, pelos ingleses. A segunda foi a St. John’s Lodge, também na cidade do Rio de Janeiro e a terceira foi Southem Cross Lodge, fundada na cidade do Recife, Estado de Pernambuco, em data não estabelecida, porém instalada em 15 de junho de 1856.

No Grande Oriente do Brasil, existem cerca de setenta Lojas que trabalham no Ritual de Emulação (que erroneamente denominado de Rito de York), cuja dinâmica litúrgica difere do sistema de Thomas Smith Webb.   

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